(des)acordando

Foi o primeiro tombo. Voltei pra casa digerindo toda aquela historinha nojenta e me perguntando como havia ido parar ali. Como pude me deixar envolver tanto a ponto de ocupar o tão aspirado lugar de protagonista, só que numa história tão tosca. Se eu soubesse antes o que sei agora não teria mudado o meu caminho de todo, mas teria feito o possível pra passar como uma sombra, assim, como aquelas que só enxergam aqueles que sabem observar bem. E eu teria evitado essa frustração toda. É, eu me senti frustrada sim, mas não culpo ninguém além de mim mesma por esses sentimentos que vieram me assombrar essa noite e sabe-se lá até quando estarão por aqui. O coração perdido, flutuando no pior sentido da palavra. Sem rumo. Sinto como se ele tivesse dado um pulo, tão intenso e tão imenso pra fora do meu peito que se perdeu nesse espelho embaçado pra sempre que é o mundo.

Sabe quando você pensa e pensa e procura e procura mas não consegue encontrar um lugar pra repousar seu coração? Quando olha ao redor daquelas quatro paredes que te cercam, mas não encontra mais o quinto canto que há tão pouco tempo estava ali e ninguém mais via, só você? Sumiu. Evaporou. Desintegrou-se. E eu não sei se vai voltar. Sei que precisa, que é necessário. Que eu preciso e que me é deveras necessário. Todo mundo precisa de um quinto canto. Pra guardar aqueles amores mal resolvidos, as promessas não cumpridas - mas nunca esquecidas, aquele pedido de desculpa que se encontra há muito refém do orgulho, mas que ainda tenta soltar seu grito estridente por entre a mordaça, aquelas cartas, aqueles versos os quais você nunca teve coragem de mandar ou mostrar a alguém porque a primeira coisa que quis fazer após tê-los escrito foi amassar e jogar no lixo. Enfim, essas coisas que por mais que se tenha uma caixinha de segredos ambulante são só nossas e ninguém precisa saber.