Era assim mesmo. Ela em cima da corda bamba fazendo o máximo de força pra não cair enquanto não escolhesse pra que lado jogar sua vida. Jogar fora? Pra quê? Já estava tudo pra fora. Fugas, medos, distrações, desapegos, vísceras. Tudo do avesso. Se doía? Um pouco. Às vezes. Na verdade só se ela quisesse. E ela estava mesmo aprendendo a não querer mais. O fato é que a corda estava ali, e bambeando de um lado a outro. Não tinha mais suor na face, não tinha mais amores no peito, não tinha mais peso nos ombros, tudo já havia se desprendido, desamarrado, e se misturado ao espelho embaçado que é a vida. Só faltava ela se decidir, cair da corda com o puro gosto de cair, com a verdadeira vontade de quem volta pra casa debaixo de um temporal, e sorrindo, e pedindo pra chover mais. Bem que podia chover naquela hora... Quem sabe ela não escorregava e caia em um dos lados sem a culpa de ter caído, sem o peso da decisão?... mas não! Assim não. E continuar acumulando opções vida afora? Evitando arrependimentos, sempre tentando não errar? Foi aí que pousou um pássaro em seu ombro. Cantou um canto de quem fosse embora e ela caiu para um lado que ninguém nunca soube onde ia dar. Me pareceu um pouco estranho, mas dizem que ela caiu sorrindo. E o pássaro que ali pousou naquele instante, eu o encontrei dia desses por aí, ele me contou, alegre não sei porquê e verde, que ela continua caindo, caindo.
Thay mandou eu ler esse texto, cheia de admiração. Li no dia seguinte, após um sono longo da tarde, com olhos ainda abrindo, e ao alcançar a ultima palavra, não consegui tirar da boca a surpresa: puta-que-pariu!Já estou acordada.
ResponderExcluirMuito bom, Josi.
Prometo que apareço outra vez, com um comentário mais decente. Mas, olha, está entre os meus preferidos.
Beijos
Vocês são duas lindas, Fran. Obrigada, de verdade.
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