19 junho, 2011


Sabe, ela às vezes me contava como se sentia em relação à todas aquelas coisas que haviam acontecido. Mas garantia que qualquer vestígio de olhar estreitamente úmido e vontade de dar um sorriso toda vez que se lembrava não passariam de um momento de fraqueza. Na verdade ela sempre fora fraca, e omissora de suas verdades mais íntimas. Lembro-me agora de quando a vi sentada debaixo daquele céu que o sol havia tomado pra si e a senhorinha da rua Dezoito passou às pressas com seu guarda-chuva azul meio quebrado e disse com voz pesada "Não faça assim, menina. Olha que o sol põe a ferver a garganta da gente!" Mas ela deu de ombros. E eu fiquei daquele banco, na pracinha. Perto o suficiente pra ouvir seu coração rastejando, implorando pra que ela levantasse do chão e fosse buscar embaixo da cama aqueles sorrisos, perdidos desde que ela amanheceu na mesma janela, aguardando a entrada da próxima estação. Mas não chegava nunca o outono porque ela vivia sempre no inverno, e era das pouquíssimas pessoas que conheço que não ousam dar um passo sequer para trás. Claro que isto não era bom, mas ela não sabia, nem dava ouvidos a quem quer que fosse lhe contar. Ficava lá, parada com seu olhar parado. Eu me levantei do banquinho, dei meia volta na praça e voltei pra casa antes que o sol pusesse a ferver minha garganta também.

2 comentários:

  1. De onde você tira essas coisas, Errante?!

    Senti como se você estivesse falando isso, aqui, numa manhã daquelas, num dia daqueles das nossas divagações.

    sz

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  2. Nossa, que monólogo interior livre tem aí.
    Gostei, hein.

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