07 junho, 2015


"O passado voltou rasgando
Você ficou de voltar
Antes que eu sentisse a falta
Antes que faltasse o ar"
Histórias que caminham soltas pelo tempo sem pontos finais.
 Com pontos demais (três é demais).

30 abril, 2015


Saiu à porta da casa
quase nua
atravessou a varanda
e sentou-se ao pé da escada
de madeira
(que dava para o quintal)

O calor daquelas noites
de abril
fazia seu corpo ferver
debaixo daquele teto
quase sempre
sem estrelas.




01 fevereiro, 2015

Aqui, agora, existe algo que quer tomar conta do lugar. Tédio. Mas eu não quero isto aqui. Não admito a presença do tédio. Porque eu olho pela janela e vejo altas árvores com folhagens que são constantemente acariciadas pelo vento, vento que existe só lá fora. E porque um avião quebra a corrente de tédio que tenta se formar nessa sala de minutos em minutos. E porque o prédio que vejo pela janela é bem velho, e eu me pergunto há quanto tempo será que ele está ali, e se alguém já pensou alguma vez se ele serviu para qualquer coisa que não tivesse parte com sua função mais óbvia, com a função mais óbvia e específica de todos os prédios do mundo. Se alguém já pensou, por exemplo, que a sua altura não permite que se veja as árvores por inteiro, que deve ser triste porque recebe todo sol e toda chuva que vem dos céus, que espera ali, paciente, esperançoso de que nunca cortem as árvores que crescem lentamente e avançam sobre sua parte superior, amenizando, assim, o toque da chuva e do sol, que a demora dessas árvores em crescer às vezes o faz acordar com uma vontade imensa de que lhe implodam. Porque dói estar sempre ali, à disposição do dia que não para de nascer. Ele que saberá-se se dorme, se a ele lhe dão alguma opção de paz milimétrica.


sobre dias de sol passados.

09 agosto, 2014

Estive reparando no quanto a gente sofre por querer cada coisa em seu lugar.


Qual é o lugar de cada coisa?

01 outubro, 2013

Encontraram-se assim, de repente. Ele de mãos dadas com sua garota, ela com sua menina. No final da escada do shopping que dava para o segundo andar. Os dois, no meio da pressa de não se sabe o quê, correndo para algum lugar que provavelmente não merecia a falta de atenção que seus olhos ofereciam aos arredores. Não sei se acredito em acaso ou em destino, mas, seja o que for, arrisco a dizer que um ou outro tem mesmo destas coisas. Armar um encontro assim, rápido e sufocado, de um abraço meio obrigatório, de um cumprimento meio mecânico em simples memória dos dias que ficaram para trás, de um (outro) adeus tão repentino quanto fora aquele encontro, tão latejante pelas próximas horas quanto o caminho de volta para casa naquele dia - tão longe na lembrança - em que ele havia resolvido acender o rubor  na face dela. Ela não soube o que fazer. Nem antes, nem depois, e nem ontem. Ela pusera-se num estado de letargia que durou até o fim do último degrau daquela escada que parecia não ter fim. Como naquele mesmo dia antigo, voltando para casa. Ela não sabia o que dizer, nem ele, então nenhum deles disse coisa alguma. Trocaram ali duas ou três frases banais, daquelas cujas respostas já se espera, o que as torna ainda mais banais. Ele com o mesmo jeito de sempre, meio tímido, meio sem graça. Quis parar e falar mais, ela soube, mas essa vontade durou menos de dois segundos, como se algo o puxasse para a frente, como quem não quisesse passar a impressão de indiferença, ela soube disto também, e já esperava. O "tchau" veio em seguida, logo depois do beijo desajeitado no rosto, e nenhum deles olhou para trás enquanto fosse possível avistarem-se. E ela não para de pensar em histórias que, por alguma razão nessa vida, caminham soltas pelo tempo sem um ponto final de verdade. 

21 agosto, 2013

(...) mas uma esperança involuntária e um pouco malquista de que algo pode acontecer, algo incrível pode, sim, acontecer quando menos se espera. Não há um desejo de que aconteça, mas paira a existência de uma possibilidade que nunca saberá-se de quê, até que exploda. 

novembro de 2012