Encontraram-se assim, de repente. Ele de mãos dadas com sua garota, ela com sua menina. No final da escada do shopping que dava para o segundo andar. Os dois, no meio da pressa de não se sabe o quê, correndo para algum lugar que provavelmente não merecia a falta de atenção que seus olhos ofereciam aos arredores. Não sei se acredito em acaso ou em destino, mas, seja o que for, arrisco a dizer que um ou outro tem mesmo destas coisas. Armar um encontro assim, rápido e sufocado, de um abraço meio obrigatório, de um cumprimento meio mecânico em simples memória dos dias que ficaram para trás, de um (outro) adeus tão repentino quanto fora aquele encontro, tão latejante pelas próximas horas quanto o caminho de volta para casa naquele dia - tão longe na lembrança - em que ele havia resolvido acender o rubor na face dela. Ela não soube o que fazer. Nem antes, nem depois, e nem ontem. Ela pusera-se num estado de letargia que durou até o fim do último degrau daquela escada que parecia não ter fim. Como naquele mesmo dia antigo, voltando para casa. Ela não sabia o que dizer, nem ele, então nenhum deles disse coisa alguma. Trocaram ali duas ou três frases banais, daquelas cujas respostas já se espera, o que as torna ainda mais banais. Ele com o mesmo jeito de sempre, meio tímido, meio sem graça. Quis parar e falar mais, ela soube, mas essa vontade durou menos de dois segundos, como se algo o puxasse para a frente, como quem não quisesse passar a impressão de indiferença, ela soube disto também, e já esperava. O "tchau" veio em seguida, logo depois do beijo desajeitado no rosto, e nenhum deles olhou para trás enquanto fosse possível avistarem-se. E ela não para de pensar em histórias que, por alguma razão nessa vida, caminham soltas pelo tempo sem um ponto final de verdade.