01 fevereiro, 2015

Aqui, agora, existe algo que quer tomar conta do lugar. Tédio. Mas eu não quero isto aqui. Não admito a presença do tédio. Porque eu olho pela janela e vejo altas árvores com folhagens que são constantemente acariciadas pelo vento, vento que existe só lá fora. E porque um avião quebra a corrente de tédio que tenta se formar nessa sala de minutos em minutos. E porque o prédio que vejo pela janela é bem velho, e eu me pergunto há quanto tempo será que ele está ali, e se alguém já pensou alguma vez se ele serviu para qualquer coisa que não tivesse parte com sua função mais óbvia, com a função mais óbvia e específica de todos os prédios do mundo. Se alguém já pensou, por exemplo, que a sua altura não permite que se veja as árvores por inteiro, que deve ser triste porque recebe todo sol e toda chuva que vem dos céus, que espera ali, paciente, esperançoso de que nunca cortem as árvores que crescem lentamente e avançam sobre sua parte superior, amenizando, assim, o toque da chuva e do sol, que a demora dessas árvores em crescer às vezes o faz acordar com uma vontade imensa de que lhe implodam. Porque dói estar sempre ali, à disposição do dia que não para de nascer. Ele que saberá-se se dorme, se a ele lhe dão alguma opção de paz milimétrica.


sobre dias de sol passados.

Um comentário:

  1. Dias de sol acabam que por instigar, também, coisas das profundidades. E são essas, assim, sensíveis, do modo como fala. De peculiaridades, coisas mínimas, mas grandiosas, coisa e tal, tal e coisa.
    Ah, adorei, estou amando, aliás, Ludovico Einaudi. É desse tipo de instrumental que eu falava, mesmo.
    Obrigada <3
    :*

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